Fundador e presidente da rede de farmácias conta por que vendeu 17% do controle da companhia para um fundo.
DEUSMAR QUEIRÓS, DA PAGUE MENOS (FOTO: DIVULGAÇÃO)
"As crises vêm e vão embora. Só as vencemos trabalhando e investindo". É com essa visão otimista que o empresário Francisco Deusmar Queirós explica por que vendeu 17% da empresa que fundou, a rede de farmácias Pague Menos, ao fundo americano de private equity General Atlantic. Queirós diz que queria manter o crescimento médio da rede [abertura de 80 lojas por ano] e sua expansão nacional, mas "sem causar endividamento". Na última segunda-feira (21/12), a empresa anunciou o aporte de R$ 600 milhões da General Atlantic em troca de parte do controle acionário. "Muitos fundos me procuraram, mas fui até Nova York e conheci melhor a General Atlantic. Eles já têm experiência em várias empresas varejistas da área de saúde", afirma Queirós. No Brasil, o fundo tem investimentos em companhias como Ourofino, Smiles, Gol e XP Investimentos. "De repente, estou precisando de ajuda com um problema e eles estarão lá", diz Queirós - enfatizando que "não sabe quais problemas a Pague Menos poderia ter".
O acordo é uma solução, segundo o empreendedor, para obter capital imediato. A rede de farmácias não descarta por completo abrir capital - só que, como já fez outras vezes, posterga este momento. "Não há possibilidade de IPO nem em 2016, nem em 2017". Segundo ele, "a coisa não vai mudar tão cedo, já que a presidente faz questão de manter o mesmo time e a mesma estratégia". A nova previsão para a abertura de capital da Pague Menos fica para 2018. "Não descarto. Pelo contrário. Toda empresa grande no mundo, como IBM, Google, Bradesco e Itaú, são companhia abertas".
Com previsão de faturamento de R$ 5 bilhões em 2015, a PagueMenos conta com 820 lojas em 300 munícipios e emprega 20 mil funcionários. A expansão, que agora ganha um reforço de caixa, não tem, ao menos a princípio, uma região prioritária. Queirós diz querer continuar investindo no Centro-Oeste e cita outros estados do Sul. Ele lembra que atualmente há 60 lojas da Pague Menos em construção. "A meta que falávamos há alguns anos de chegar a 1 mil lojas em 2017 já está garantida. E o que você faz quando chega na meta? Dobra a meta. Não foi o que a presidente disse?", afirma Queirós. Ele projeta que a rede de farmácias chegará a 1,6 mil unidades em 2021.
Queirós fundou a Pague Menos em 1981, quando abriu uma loja de bairro em Fortaleza (CE). A rede cresceu impulsionada pela evolução do próprio varejo farmacêutico. Hoje, possui lojas em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal. Até 2012, Queirós afirmava que, apesar da enorme expansão das concorrentes no Sul e Sudeste, ainda não "via nada de concreto" que pudesse ameaçar a Pague Menos no Nordeste. De lá para cá, muito mudou, mas ele mantém o otimismo ."A Drogasil já chegou em Pernambuco, por exemplo. Se eu fui para São Paulo, tenho mesmo que esperar que eles venham para o Nordeste. Mas, mesmo com a concorrência acirrada, crescemos ainda a uma taxa de 15%".
Para o executivo, o lado bom de ter concorrentes é que eles "servem para nos estimular a superá-los". "Deus abençõe aos concorrentes, porque eles me dão força para vencê-los", diz em tom mais exaltado.
E, apesar da "briga boa", há espaço para todos no mercado. Queirós compara o varejo farmacêutico brasileiro com o dos Estados Unidos. "Lá tem duas redes com 8 mil lojas. Aqui, são 74 mil farmácias".
Mesmo insistindo, o empresário - ao menos no discurso - não dá importância às turbulências econômicas que a economia brasileira enfrenta e parece seguir fazendo seu próprio caminho. "Crise? Crescia 20% e agora estou crescendo a 15%. É essa a minha crise".