É a primeira vez que Pnad Contínua, mais abrangente que a PME, revela dados mensais do mercado de trabalho
RIO - A taxa de desemprego no Brasil ficou em 6,8% em janeiro, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados nesta quinta-feira. Em dezembro, havia ficado em 6,5%. E, em janeiro do ano passado, em 6,4%.
Normalmente, o desemprego aumenta na passagem de dezembro para janeiro, devido à dispensa dos funcionários contratados temporariamente para o Natal, mas, neste caso, há aumento também em relação a janeiro de 2014.
Segundo o coordenador de Trabalho e Rendimento, Cimar Azeredo, a elevação nas duas bases de comparação se deve ao aumento da pressão no mercado, com mais pessoas procurando emprego, e a ocupação que não foi suficiente para absorver esses trabalhadores.
— É um aumento significativo de pessoas procurando trabalho — afirma Azeredo. - Esse aumento na taxa de desocupação agora em janeiro é reflexo do aumento da população desocupada, ou seja, aumentou substancialmente o número de pessoas procurando trabalho. Houve um aumento também da população ocupada, mas o aumento da população desocupada se sobrepôs, fazendo a taxa subir significativamente, tanto quando você faz a comparação de janeiro com o período anterior como de janeiro com o mesmo período do ano passado - disse ainda.
Os dados são calculados mensalmente com informações coletadas no trimestre encerrado no mês de referência. Por exemplo, para informações de janeiro, foram contabilizados dados de novembro, dezembro e janeiro. Para os dados de fevereiro, são utilizados dados de dezembro, janeiro e fevereiro. A série histórica começa em 2012.
O IBGE optou pela divulgação sob esta forma por conta dos custos de se fazer a pesquisa em todo o país.O coordenador de Trabalho e Rendimento, Cimar Azeredo, disse que de um mês para outro (trimestre móvel) há repetição de dois terços da amostra, o que serve para atenuar movimentos mais bruscos.
A presidente do IBGE, Wasmália Bivar, explicou que a comparação para a qual a pesquisa foi desenhada é aquela entre trimestres que não apresentam nenhuma repetição. Por exemplo, o dado de janeiro, que carrega dados de novembro, dezembro e janeiro com a de outubro, que abrange dados de agosto, setembro e outubro. No entanto, frisou Wasmália, a comparação entre um mês com o anterior (com o trimestre móvel anterior) é possível já que aponta uma tendência de curto prazo ao trazer um terço da amostra que é nova.
Para o economista José Marcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, o desemprego cresceu de forma mais intensa que a habitual. Ele destacou a queda na ocupação (proporção de ocupados entre as pessoas que faziam parte da força de trabalho) entre o trimestre encerrado em janeiro do ano passado e igual trimestre deste ano 57,1% para 56,7%. A parcela de trabalhadores que buscavam emprego aumentou em ritmo mais intenso que a geração de vagas e foi insuficiente para absorver a população.
— A economia estava num processo de estagnação e, neste ano, vai haver uma queda pronunciada do PIB, e uma pressão para aumento da taxa de desemprego — estima Camargo.
Para o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, embora a saída de pessoas da força de trabalho nessa pesquisa seja muito menos evidente que na PME, a tendência é que mais trabalhadores voltem a procuram emprego nos próximos trimestres, de modo a pressionar a taxa de desemprego:
—A tendência é de um crescimento mais moderado do emprego ao longo deste ano. Com a renda crescendo menos, há um impulso para que as pessoas entrem no mercado de trabalho. O ano de 2015 é de atividade mais fraca e de inflação mais pressionada, o que contribui para retirar o poder de compra das famílias.
RENDIMENTO
O rendimento médio do trabalhador em cerca de 70 mil domicílios espalhados pelo país continuou com ganho real e somava R$ 1.795,53 — abaixo do rendimento médio das metrópoles, que supera R$ 2 mil. Para economistas, o cenário econômico mais hostil irá pesar sobre o mercado de trabalho, elevando a taxa de desemprego, com provável queda na renda.
Em relação a janeiro do ano passado, houve uma alta real de 2,1% no rendimento de todos os trabalhos. Em relação ao trimestre encerrado em outubro (comparação que o IBGE recomenda), houve avanço de 1%.
O economista João Saboia, da UFRJ, lembra que o efeito da inflação mais alta, que chegou a 1,24% em janeiro pelo IPCA, ainda não foi captado pela pesquisa e, portanto, não afetou a renda. Pela metodologia, a renda é deflacionada pela inflação do segundo mês do trimestre (dezembro),quando a inflação foi 0,78%:
— Os próximos dados vão mostrar um efeito maior da inflação. Uma combinação de desaceleração do mercado de trabalho com inflação alta, perto de 7% e 8%, faz diferença e a renda não deve resistir.
Segundo Azeredo, o ganho no poder de compra do trabalhador apesar da alta inflação ficará mais claro quando a pesquisa captar a renda por grupamento de atividade (indústria, comércio etc). Uma hipótese é que a dispensa de trabalhadores temporários, que em geral ganham menos, possa ter ajudado a elevar os rendimentos.
É a primeira vez que o levantamento, mais abrangente que a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), traz números mensais do mercado de trabalho. Até ano passado, as informações eram atualizadas trimestralmente.
O levantamento reúne dados de 3.464 municípios do país e não apenas de seis regiões metropolitanas, como a PME. Inicialmente, a PME seria feita apenas até 2014. A decisão de produzir indicadores mensais da Pnad contínua — e não apenas por trimestre — motivou a extensão da coleta dos dados. Assim, será possível ter uma base de comparação entre as duas pesquisas.
Justamente por ser mais abrangente, a Pnad Contínua costuma apresentar uma taxa maior que à mensalmente divulgada dentro dos parâmetros da PME, que conta com dados de seis regiões metropolitanas. Em fevereiro, o instituto informou que a taxa medida pela PME subiu para 5,3% no primeiro mês do ano, frente a 4,3% no mês anterior. Foi a maior desde setembro de 2013.
Também no mês passado, o IBGE divulgou pela primeira vez os dados de rendimento medidos pela Pnad Contínua. O objetivo é substituir gradualmente a PME pelo levantamento nacional, criado em 2012 e que, até ano passado, não contava com números sobre a renda.
Azeredo disse que a PME será coletada até 15 de janeiro de 2016 para depois ser suspensa. Segundo o técnico, a Pnad Contínua de maio já trará o rendimento por unidade da federação.
(Colaborou Marlen Couto)
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